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O Exercício da Gentileza


Você já reparou que o mundo está sempre emitindo convites para cada um de nós, o tempo todo? Por exemplo, quando você está dirigindo com pressa e alguém bem lento entra na sua frente, ou quando você está bem atarefado e alguém te procura pra pedir muitas informações. Quando você está muito cansada e seu filho derruba um vidro de geléia na cozinha, ou então quando você espera que vão entregar o bolo de aniversário da sua filha às 15h e já são 16h30 e nada ainda...


Poderia escrever trocentas páginas aqui com exemplos de convites como esse, que chegam todo dia, em vários momentos, a cada um de nós. Talvez você esteja se perguntando, "Paulo, como assim, convites? O nome disso é problema!". Exatamente, problemas e dificuldades que nos convidam a reagir!


E como você costuma reagir diante de problemas, ou mais precisamente, com quem você acha que te causou ou está causando problemas? Com irritação ou raiva, com ignorância ou desatento? Aos gritos? Aos empurrões? Aos xingos?


Quando temos um mini surto com alguém, tem quem olhe de fora e questione nossa ação, ao que muitas vezes vamos dizer: "ah, mas também, reagi assim porque não tem outra forma!". Será?


Eu era alguém que acreditava fortemente nisso. Que se eu havia gritado, xingado, brigado com alguém, ou sido ignorante ou dado uma fria, isso é porque eu o outro havia causado isso em mim, eu estava apenas reagindo! Lei da causa e efeito, e os meus maus tratos eram efeito do que os outros causavam em mim.


Que falta de visão a minha! O quão pouco eu achava de mim pra acreditar nessa ideia!


Vê, a lei da ação e reação, causa e efeito existem. São muito visíveis na física tradicional, por exemplo, quando você dá um soco numa parede. A força que você aplicou volta pra sua mão e vai doer pra chuchu! A parede só reagiu à ação que você proporcionou. E nesse caso, eu me identificava com a parede, reagindo simplesmente.


Talvez não estivesse muito enganado, porque realmente, minhas reações eram, na maioria das vezes, impensadas, como se fosse eu uma parede também. Após muito estudar sobre o comportamento humano, cheguei a um aprendizado que me surpreendeu e que mudou minha forma de ver a mim e aos outros.


Primeiro, que não existe apenas uma forma de reagir a certas coisas. Pois é, pasmem! E se você duvida, repare ao seu redor. Tem gente que diante de uma situação de estresse, chora, outros ficam com raiva, outros riem, outros simplesmente não fazem nada, enquanto outras pessoas conseguem manter a calma e lidar de uma forma boa com a situação. E por que existem essas diferenças?


Por conta da segunda descoberta: nossas reações foram aprendidas, durante o processo de infância, e ficam cristalizadas na nossa mente, sendo sempre acionadas diante de situações parecidas. Quanto mais repetimos uma ação ou reação, mais ela se cristaliza.


Essa explicação é uma descoberta da neurociência, que estuda o comportamento humano à partir do nosso cérebro. Como espírita, gosto de ir além. Principalmente porque podemos ver que as crianças, indiferente do ambiente que crescem, trazem consigo uma bagagem que faz com que aceitem ou não o aprendizado que recebem nessa encarnação quanto à forma de reagir.


Ou seja, se uma criança traz consigo uma boa índole como bagagem de experiências anteriores, muito dificilmente ela vai sucumbir caso chegue a este plano material em uma condição ruim e um ambiente que tente corrompê-la. Enquanto há pessoa que, por melhor que seja o ambiente em que nasçam, ainda sim manifestam tendências ruins e crescem com elas.


"Paulo, então quer dizer que quem já veio ruim, vai continuar ruim?"


Graças à Deus, não. O nosso corpo espiritual está sujeito a mudanças, e nosso corpo físico também. Não só as mudanças externas, como o resultado que temos ao fazer exercícios físicos, mas internamente, no nosso cérebro, que possui uma qualidade chamada neuroplasticidade, que nos permite redesenhar os caminhos neurais que nos levam aos mesmos comportamentos.


Por isso eu quis primeiramente explicar o que acontece, porque somos como somos. É à partir disso que podemos mudar. Entender que a forma como agimos e reagimos não é a nossa essência, mas sim o fruto do aprendizado que tivemos no passado, seja nessa encarnação ou em outras anteriores. Esse artigo é um convite para rever e repensar nossas atitudes, ver quais delas estão sendo danosas àqueles que amamos e à nós mesmos, e iniciar um processo de mudança pra valer em nossas vidas.


Não é por menos, o título deste artigo é "O exercício da Gentileza", porque é isso que precisamos aprender e praticar, praticar e praticar! Nosso aprendizado depende disso, das decisões que tomamos e da prática dessas ações.


Pra começar, pegue algo simples, alguma coisa que você sabe que faz que deixa as pessoas desconfortáveis, ou que chateia sua esposa, seu marido, os colegas de trabalho. Uma reação sua parece automática, que sempre que apertam aquele botão, você "espana", ou seja, você vai para sua reação padrão.


A nossa mudança começa na mente, então lembre da última vez que isso aconteceu e como você reagiu. Lembre a sensação que você teve quando falaram ou fizeram aquilo contigo, e como foi automático reagir com um grito, com um choro, com uma risada ou com indiferença, de forma inadequada para o momento. Agora, quero que você se pergunte: qual outra reação teria sido melhor para lidar com aquela situação naquele momento?


Essa pergunta é a que a nossa consciência deve fazer sempre. De todas as formas que podemos reagir, a melhor é sempre com gentileza. Pra evitar uma briga, pra desarmar um agressor, pra acalmar uma pessoa triste ou frustrada, para socorrer alguém machucado, para amparar uma pessoa que errou.


Você não precisa esperar a próxima situação problema para colocar em prática a gentileza. Comece com coisas simples! Cumprimente logo cedo quem está em casa e quem você encontra no seu caminho. Um "bom dia" dito com sinceridade desperta reações tão positivas das pessoas. Pedir "com licença, por favor" ao tentar ultrapassar alguém, ou passar por um canto apertado, é como proferir uma palavra mágica que abre portais. Pedir "desculpe, foi sem querer" quando cometer um equívoco que você sabe que cometeu ou não percebeu, mostra para a outra pessoa sua boa intenção e aplaca os ânimos, se não no momento, com certeza quando a outra pessoa recuperar a razão. Diga "obrigado" pelas grandes e pequenas coisas que as pessoas fazem por você, pois a gratidão enobrece a quem dá e justifica quem recebe.


Nessa nossa transformação espiritual e material, meu convite a você é repensar a sua vida, suas ações, a forma como você faz o que faz. Se permitir usar essas palavras mágicas constantemente, com aqueles que você pouco vê e com aqueles que estão no seu dia a dia, mais próximos. Escolha a paz mais vezes, escolha o perdão mais vezes, escolha ajudar mais vezes. Fazer o bem sempre que puder e quando não puder, pensar o bem então, desejá-lo, inspirá-lo para aqueles que estão no meio da ação.


A gentileza é a maior força do mundo. Ela transforma vidas, pode transformar a nossa. De pensar mais nela, de praticá-la, vamos mudando a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Essa pode ser a melhor ferramenta de melhora do nosso planeta e o caminho que nosso cérebro e nossa alma buscam para pensar e agir da melhor forma.


E você, que pequena gentileza pode começar a praticar hoje, para então praticar sempre? Vamos juntos mudar o mundo à partir de nós mesmos?


Um grande abraço,


Paulo Bomfim

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